Aguardemos a poeira baixar

As perspectivas para 2016 não são boas. Não bastasse a crise doméstica, que é econômica e política, repleta de imprevisibilidades, o cenário internacional também está mais adverso.

Por aqui, 2015 que seria “o ano do ajuste” foi supreendentemente muito pior do que se esperava.  A economia contraiu 3,8%, a inflação medida pelo IPCA foi de 10,7%, o desemprego subiu, a renda real caiu, investimentos caíram 14,1%, as contas públicas tiveram um déficit de 1,88% do PIB. Nessas condições o país perdeu o selo de “bom pagador” pelas agências de risco internacionais, a moeda se desvalorizou cerca de 50% e os juros básicos subiram de 11,75% para 14,25% ao ano.

O governo se defronta com ampla crise econômica e política e, nesse contexto, não se vê no horizonte de curto prazo reversão do quadro.   

O PIB esse ano deve contrair entre 3 e 4%, a inflação deve ceder um pouco, mas ficará elevada, acima do teto da meta estabelecida pelo Banco Central (6,0%). Com preços em alta, não há espaço para cortes significativos da taxa de juros, a despeito da recessão. Desemprego continuará a subir, renda em queda. Inadimplência tem crescido tanto para pessoas físicas, como jurídicas, o crédito está mais escasso e caro, e os investimentos ficam paralisados.

Economistas debatem continuamente a necessidade de mudanças estruturais na economia que passam pela previdência, tributos, mercado de trabalho, etc. Mas, no curto prazo, esses temas não devem ser endereçados. Vale notar que as atividades no legislativo podem ficar ainda mais morosas no segundo semestre em função de eventos como Olimpíadas e eleições municipais.

Não bastassem as dificuldades no ambiente doméstico, no exterior se instala um clima de tensão que obriga ainda mais cautela. Quase oito anos após a grande crise que eclodiu em 2008, as principais economias do mundo - EUA, Reino Unido, Japão e Zona do Euro - ainda convivem com taxas de crescimento relativamente baixas e já gastaram boa parte das suas munições para reanimar a economia, seja no lado da política monetária, seja do lado fiscal. Ou seja, a despeito de trilhões de dólares de pacotes de ajuda o crescimento permanece aquém do esforço realizado.

Outro destaque de tensão externa é a China que também está a desacelerar o ritmo de expansão. O país contribuiu significativamente para os anos de ouro da economia global vividos entre 2003-2007, com taxas de crescimento de dois dígitos e uma demanda gigante por commodities. Desde 2011 enfrenta desafios que vão dos excessos de estímulo ofertados na crise de 2008, ao redesenho do modelo de crescimento. Teme-se que um insucesso da China com desaceleração mais aguda contamine negativamente a economia e as finanças globais.

Assim, para onde se olha há incertezas. O cenário doméstico vive um momento de enormes desafios na esfera político-econômica, com baixíssimo horizonte de previsibilidade, e o quadro internacional exige monitoramento, pois pode produzir surpresas negativas.

O ano de 2016 é um ano de cautela e de aversão ao risco. Aguardemos a poeira baixar.