Os inimigos da sua boca

Acredite: neste momento, pode haver mais bactérias em sua boca do que habitantes no planeta Terra. Exagero? De jeito nenhum. Nossa boca abriga milhões de bactérias que não param de se multiplicar. Não é à toa que Confúcio, notório pensador e filósofo chinês que viveu no século V a.C., referia-se à boca como “a porta de entrada de quase todas as doenças”.

De acordo com a American Dental Association (ADA), diversas patologias podem ter origem em infecções orais. Pesquisas indicam que há forte relação entre problemas da gengiva e doenças cardíacas, partos prematuros e nascimentos de baixo peso, pneumonia e descontrole da diabete, entre outras enfermidades.


Cuidar de dentes e gengivas, portanto, não é apenas uma questão de estética, mas sim de saúde. E a prevenção é sempre o melhor remédio.

Escovação duas vezes ao dia com creme dental fluoretado e limpeza entre os dentes diariamente com fio dental são bom ponto de partida, mas não bastam.

É preciso visitar regularmente o dentista. “É muito difícil alguém conseguir remover 100% dos resíduos de alimentos. Muita gente usa o fio dental incorretamente, sem chegar com o fio entre o dente e a gengiva”, explica Ivo Amadeu Junior, especialista em Ortodontia e Radiologia e mestre em Saúde Coletiva. O acúmulo de restos de alimentos em dentes, língua e bochechas dá origem à placa bacteriana, que, quando calcificada, forma o tártaro. Quando essa placa não é retirada, surgem complicações como vermelhidão, inchaço e sangramento das gengivas. O quadro é chamado de Gengivite e constitui um dos problemas bucais mais comuns da população brasileira.

Segundo a Academia Brasileira de Odontologia, no entanto, a maioria das pessoas só procura o dentista quando sente dor. Esse comportamento reflete-se também entre os usuários dos planos odontológicos da Funcesp - apenas 5% de fato aproveitam o benefício. “Em geral, os que usam são para tratamentos complexos, como canal e próteses. Prevenção, infelizmente, é pouco realizada”, afirma Marly Jeronimo de Souza Ramos, dentista da área de Saúde na Funcesp.

O colega concorda com ela. “Fazer imagens radiográficas, digitais ou não, do paciente é importante. Tem certas patologias que só o RX é capaz de mostrar”, afirma o dentista. Ele explica que até mesmo problemas relacionados a ossos e músculos – como disfunção de articulação, bruxismo e má oclusão – têm melhor resultado quando tratados precocemente. “Medidas de contenção adequadas podem evitar cirurgias e tratamentos ortodônticos”, avisa.

OS INIMIGOS DA SUA BOCA

- Cárie: causada pelas bactérias. Começa com uma cavidade e, quando não tratada, dói e pode atingir a polpa vital do dente (o popular canal).

- Gengivite: a placa bacteriana, formada por resíduos que ficam entre os dentes e a gengiva, quando não retirada, endurece e se transforma no tártaro e provoca a doença.

- Periodontite: ocorre quando a gengivite atinge estruturas como raiz dentária e osso. Pode resultar na perda do dente.

- Dente sensível: o desgaste da superfície do dente causa a dor. A causa mais comum é a exposição da raiz do dente em virtude de cárie, fratura ou retração da gengiva.


- Halitose: o popular mau hálito é causado, na maioria das vezes, pelo acúmulo de placa bacteriana ou por doenças periodontais.

Cuidados com o uso de bisfosfonatos

Cresce silenciosamente o número de pessoas que se submetem a cirurgias dentárias e acabam com necrose óssea. Os grandes vilões são os bisfosfonatos.

Os bisfosfonatos são medicamentos ministrados a pacientes no tratamento de cânceres ósseos, doença de Paget e osteoporose pós-menopausa. O remédio repõe a matéria perdida, mas o osso não nasce em condições de sustentar um implante dentário. “Ele só estará pronto para isso cerca de quatro meses após a medicação ter sido suspensa”, explica o dentista Ivo Amadeu Junior. “O dentista deve sempre perguntar sobre esses tipos de tratamento antes de fazer um implante. O paciente precisa informar o dentista se tiver feito tratamentos assim” afirma ele. A remoção de um elemento dental tem sido associada como fator inicial mais comum da osteonecrose entre pacientes que utilizam esta medicação – por isso, peça orientações ao seu médico e consulte um dentista sobre a correta higiene bucal e tratamentos preventivos, para minimizar a necessidade de procedimentos cirúrgicos como extrações dentárias.